23 julho 2014

' Entrevista ' - Ribeirinho Nogueira

Olá pessoal.. Andei meio sumida né?!
Mas to de volta, e trouxe pra vocês a entrevista que fiz com uma pessoa muito especial.
Ribeirinho Nogueira, um homem determinado que resolveu viajar pelo mundo de bicicleta, divulgando seu sonho, o Projeto Totipah.
Foram 7 meses de viagem, percorreu 5 países, 8 estados brasileiros; foram 8.100 Km pedalados e 14,260 Km viajados. E não para por ai, pretende pedalar ainda mais.
  • Como nasceu o sonho do Projeto Totipah. 
Bem, já fiz de tudo nessa vida. Trabalhei com muita coisa, e o que me deixou mais feliz foi trabalhar em um hotel cuidando de crianças. Ficava rodeado delas do café da manhã até o jantar, e percebi que tenho magnetismo; controlo 80 pré-adolescentes sem muito esforço.
Passando por um momento muito difícil da minha vida comecei a escrever uma história que se tornou o Livro Totipah. Lendo os meus personagens comecei a me entender, tenho uma concepção de vida e felicidade que vai basicamente contra todas as convenções sociais e morais, contra a visão capitalista e a individualidade. E o sonho de abrir um sítio onde viveremos, isso brilha e faz meu coração pular. Será aberto a todos que precisem, sempre de portas abertas. O foco é em criança carente e especial, porque os traumas são menores e dá pra construir a esperança desde pequenininhos. O desejo de trabalhar com criança especial não é por pena ou achar que são coitadinhos, vejo neles um presente, uma dádiva para percebermos que tudo está errado. Uma criança cega não liga se você é feio ou bonito, ela simplesmente gosta da sua voz, da sua energia; um autista jamais será domado pelas convenções, em seu mundo particular vemos uma diferença selvagem, livre; e por aí vai. Crianças especiais nascem com a diferença para nos mostrar que o mundo pode e deve ser visto com outros olhos. Perto deles eu me sinto normal, me sinto bem; com as crianças em geral me sinto assim, mas elas vão sendo adestradas pela sociedade e pelos pais, pela escola de 4 paredes, quando percebemos, já perderam o brilho e pureza.
Mas onde a viagem de bicicleta pela América do Sul entra em tudo isso? Em outubro do ano passado terminei o que acho ser o Volume I da saga Totipah, e resolvi tentar publicar, mas meus personagens são vivos para mim. Seu Aldenor, um velho incrível de sabedoria, me disse que eu não poderia publicar sem conhecer o lugar que meus personagens passaram. Chile e Bolívia estavam no roteiro. Falei para ele: “Mas como vou? Não tenho dinheiro...”. Ele me disse: “Isso é um problema seu. Você dará um jeito.”. Foi quando pesquisando as possibilidades resolvi ir de bicicleta. O livro Totipah me ensinou que o impossível não existe. E acredito tanto nisso que me lancei sem experiência, sozinho, com pouquíssimo dinheiro; mas meus personagens sabem o que fazem. A viagem me mudou como pessoa, divulgou o blog, o projeto, o livro. Ainda pretendo pedalar mais milhares de quilômetros divulgando tudo, criando público para o livro quando for publicado. Com o livro publicado vou atrás da terra; acredito que ela me encontrará, e possa fundar com passos de formiga o Sítio Totipah, em que todas as crenças se abraçam, onde a transparência é base real de todas as relações, com muita fantasia, com pessoas que acreditam que o mundo não está bom como está e é possível fazer algo diferente... A busca pela felicidade real e plena.

Umas das coisas que admiro em você, é a vontade de trabalhar com crianças especiais.. Em um mundo onde elas são desprezadas, muitas vezes pelos próprios pais.. Pessoas que não entendem, que essas crianças não são especiais por terem alguma deficiência física ou mental.. Mas sim por tudo que elas podem nos ensinar.. Ver o sorriso no rosto dessas crianças, é incrível.. Porque mesmo em meio a tantas dificuldades e privações, elas são capazes de lutar e encontrar a alegria de viver! - Jaque Cunha

Todo mundo pergunta se tenho alguém especial na família. Pior que não, nunca convivi, mas sou apaixonado porque me sinto normal.

O sítio Totipah tem o objetivo de trazer felicidade, sempre observando dons e habilidades, coisas que tragam valor, valorização, auto-estima e independência para as crianças. Todos nascemos com dons, só que nossa sociedade não tem esse foco ou objetivo.


  • Em algum momento alguém (família ou amigos) tentou fazer você desistir desse sonho?
A todo momento, todo mundo. O único que apoiou desde o começo foi o meu pai que é aventureiro e referência de coragem na família. O maior sonho dele é rodar o mundo de veleiro. Mas até ele achou que eu ia desistir nas vésperas. No começo todos acharam que eu era louco. A viagem foi acontecendo, a mobilização começou a me ajudar através de doações, as histórias foram encantando, e hoje me tornei referência de raça, coragem e fé na família. Através de minha poesia mudei minha realidade e o que as pessoas acham de mim. Posso não ter conseguido ainda nenhum dos meus objetivos, mas já sou feliz e já estou satisfeito, e quanto mais eu avanço, mais o mundo gigante vai ficando pequeno; mais o impossível me atrai e me desafia, os limites se desfazem quando estamos dispostos a atravessá-los. Antes 50 km era muito, hoje é coisa pouca;  antes 10 mil km era do outro lado do mundo, agora é do outro lado do rio. Tempo e espaço vão sendo distorcidos quando temos nos pés versos de pura magia. Parece utópico o que estou falando, ou até parece coisa que apenas é dita e não vivida, mas nos momentos mais difíceis eu cantava, eu poetizava minha dor, virava diretor do roteiro da minha vida. Era etérico, dor vira poesia, solidão vira poesia, até a fome que é a mais difícil de superar, vira poesia.

  • Você viajou durante 7 meses.. Foram 14.260 km.. Passou fome, sede, frio, calor, dor, solidão.. Conheceu milhares de pessoas, cada uma com uma história de vida.. O que mudou em sua vida desde os primeiros quilômetros percorridos? 
Acho que muita coisa mudou; mas boa parte de mim era apenas dúvidas, e agora certeza. Tenho uma crença mágica de que somos todos um e conectado com o mundo, sinto mais dores do que felicidade. Quero ser pobre para sempre, ter muita comida para dar para quem precise e amigos para me ajudar; mas não quero dinheiro não quero ascensão. Antes da viagem, meus guias disseram: "Pode ir... Tudo ficará bem..."; mas o mundo racional e estatístico dizia o contrário. Depois de tudo que aconteceu volto inteiro e mais forte, inclusive fisicamente; e realmente tudo ocorreu bem, minha intuição e fé viraram fato e realidade. Mas a questão do dinheiro ficou sempre à tona, sempre quem menos tinha é quem mais queria me ajudar, dividiam a pouca comida; eu virava família em alguns minutos. Entre os que tinham bens materiais e boas condições eu era visto com preconceito, medo; poucos queriam me ajudar, presos em convenções e receio de que eu roubasse algo. Inclusive a Fé é muito mais forte entre quem pouco tem; não julgam, ajudam com o que podem, sabem partilhar.
Quando Jesus falou que é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico ir para o reino dos céus, Ele sabia exatamente o que estava falando; e eu vi isso na prática. Tenho muitas crenças, mas estudei muito a Bíblia antes de viajar; a vida de Jesus foi a que mais inspirou minha viagem; a simplicidade, a missão, o amor... Estar disposto a morrer pelo que acredita. Vi que a Fé entre os que tem boas condições é superficial e contraditória. Como posso eu viver bem, passar por uma família com fome na esquina e nada fazer?



  •  Nos fale um pouco sobre teu livro Totipah.
O livro fala sobre uma energia que conversa, independente de qual deus siga, de qual dogma possui; fala sobre a Luz e a Sombra dentro de cada um. É uma narrativa que fala de magia como eu nunca vi por aí, desmistificando e quebrando preconceitos que muitos possuem por desconhecimento.

Contando as histórias o que vivo na viagem, surgiu a possibilidade de transformar as melhores histórias do blog Ribeirinho Sou em um livro. Ideia que não veio de mim; mas as pessoas tem pedido, tem sugerido, porque é uma outra visão das cicloviagens. Estou mais para andarilho do que para ciclista; e sou um andarilho que tem voz, que sabe contar histórias, tem críticas e argumentos que mexem com muita gente, e isso não parece ser tão comum.


Bom pessoal, é isso.. Quem quiser conhecer mais e acompanhar as viagens do Ribeirinho, é só acessar o blog Ribeirinho sou e a página no Facebook, Projeto Totipah.
Os livros ainda não tem data prevista para lançamento. Ele irá pedalar do Maranhão até o Rio Grande do Sul, depois volta pela praia até a Bahia, e publicará o livro em Salvador.

Até a próxima.. Bjos 

Nenhum comentário:

Postar um comentário